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belitabotelho

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04
Mai13

A RODA

Isabel Botelho

 

Andei a tirar umas fotografias à Roda do Senhor Santo Cristo dos Milagres e, como fiquei curiosa, resolvi pesquisar sobre o assunto. Encontrei um artigo, da autoria de Ana Coelho, que vou partilhar, não na integra, porque é muito extenso, mas vale a pena ser lido.
 
Ponto de encontro no passado e presente:

      A roda das alegrias e tristezas

A Roda.
Um dos pontos de passagem obrigatória a quem vem às festas do Santo Cristo dos Milagres.
 
 
Quem ali vai nunca está só e a companhia é sempre a mais bem-vinda de todas. Vêm para estar com o Senhor, ouvir o que Ele tem para lhes dizer e para falar com Ele, com o coração e de alma aberta.
 
 
 
Querem levar consigo algo que lhes lembre, de forma mais directa, o que cá vieram ver e sentir e, como tal, as medalhas, as pagelas, as fitas ou os terços do Senhor dos Milagres são uma constante da Roda que gira, todos os dias festivos e durante os restantes 360 dias do ano.
 

 

 

 

 

 

Os “expostos” da Roda
Mas a Roda não viveu sempre tempos de alegria e de agradecimento. Tempos houve em que, tal como nas Misericórdias, o Convento da Esperança e a sua Roda desempenharam um papel de recolha de crianças, numa resposta à sociedade que “rejeitava” alguns dos seus filhos.
As dificuldades com que se deparavam algumas famílias, a partida de um pai num navio, a morte de um dos progenitores, assim como a doença ou a incapacidade física de um familiar levavam a que o número dos “expostos” ou “enjeitados” fosse considerável. Com este sistema, que tinha como finalidade apoiar as pessoas mais carenciadas, pretendia-se reduzir a mortalidade infantil e evitar que os bebés não morressem, sem ter recebido o sacramento do baptismo.
A Roda era então uma estrutura de madeira, de forma cilíndrica, que servia para depositar, anonimamente, crianças. Este cilindro girava sobre um eixo vertical central e encontrava-se embutido numa parede ou numa janela, possuía duas ou quatro aberturas e quando se rodava, permitia o acesso, por um lado, a quem se encontrava no interior da Casa da Roda (neste caso do Convento) e, do lado oposto, a quem estava no exterior. Internamente, a Roda era composta por paredes verticais, de modo que, quem estivesse dum lado, nunca conseguia ver quem se encontrava do lado oposto. Assim, o anonimato era garantido e a criança era recolhida logo que a rodeira ouvia o som da sineta. A recolha era também feita, tanto de dia como de noite e muitos dos “expostos” faziam-se acompanhar por marcas ou sinais identificadoras dos seus pais, bem como de protecção (data e hora de nascimento; nome pretendido; explicação sobre as razões que levavam à exposição do descendente; pedido específico para a criança ser bem tratada; descrição das suas características físicas ou do seu estado de saúde; relação do enxoval que acompanhava o bebé, solicitação para não entregar a criança a ama residente fora da ilha; nota referindo a intenção de recuperar o filho, logo que tal viesse a ser possível ou ainda a indicação de outros elementos considerados pertinentes.
Parte desta informação era ainda acompanhada em alguns casos – não muitos – por algo que pudesse estabelecer uma ligação entre a criança e os progenitores, como sejam um pedaço de tecido ou fita, um cartão, uma trança do cabelo da mãe, um colar, entre outros acessórios.
Para a criação dos “expostos”, as Misericórdias e os Conventos recorriam a amas de leite (nos primeiros tempos de vida) e a amas de seco (para a educação e formação). Por volta dos sete anos, as crianças poderiam ser entregues a famílias que tinham como principal objectivo ensinar-lhes um ofício, de modo a dar-lhes um possível aceso a um melhor futuro, sendo que, apenas uma pequena parte dos “expostos” acabasse por ser reclamada pelos pais. Nestes casos, caso as famílias possuíssem bens, tinham de pagar uma verba por conta da criação, educação e formação, até então dada ao menor. 
 
27/05/2011
Ana Coelho (com recurso a material de investigação de Jorge do Nascimento Cabral), in Correio dos Açores.

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