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Abr13
VESTIDO DE NOIVA
Isabel Botelho
O vestido de noiva é um dos símbolos mais emblemáticos do casamento, refletindo os costumes de um povo e simbolizando, de modo deslumbrante, o amor do casal. Reflete o estilo da noiva, fazendo com que ela seja o foco e o centro de todas as atenções, no dia do seu casamento, religioso ou não.
Um traje especial para um dia não menos importante. Independente da conotação – amorosa, comercial, familiar ou religiosa, o casamento é uma das ocasiões mais importantes na vida do casal.
E, para a mulher, a escolha do vestido sempre esteve ligada à importância que se dá a esta cerimónia. A expressão “vestido de noiva”, segundo alguns historiadores, surgiu na Idade Média. Mas mesmo sem ter a consciência de uma peça exclusiva para esta data, as mulheres, já nos relatos bíblicos, sempre estiverem preocupadas em como se apresentar para a sua comunidade.
E, para a mulher, a escolha do vestido sempre esteve ligada à importância que se dá a esta cerimónia. A expressão “vestido de noiva”, segundo alguns historiadores, surgiu na Idade Média. Mas mesmo sem ter a consciência de uma peça exclusiva para esta data, as mulheres, já nos relatos bíblicos, sempre estiverem preocupadas em como se apresentar para a sua comunidade.
Os relatos históricos mais antigos de que se têm notícia são da Grécia, onde as mulheres se vestiam de branco e usavam uma coroa, pois deste modo, quando estavam a caminho da casa do noivo, recebiam as bênçãos de Himeneu, o deus do casamento. O rosto também era coberto com um véu, (que protegia da inveja, do mau olhado, e da cobiça de outros homens), e a jovem carregava uma tocha (símbolo do deus).
Com os romanos surgiu a conceção de se criar trajes inéditos e diferenciados para a cerimônia do casamento. As romanas vestiam uma túnica branca e envolviam-se com um véu de linho muito fino de cor púrpura, que tinha o nome de flammeum. Nos cabelos, faziam-se tranças decoradas com flores de verbena.
Após a queda do Império Romano a referência passou a ser a corte bizantina, onde as noivas se casavam com sedas vermelhas, bordadas em ouro e traziam no cabelo tranças feitas com fios dourados, pedras preciosas e flores perfumadas.
Na Idade Média, a consolidação do cristianismo impôs ao matrimônio uma carga religiosa sacra, que perdura, em parte, até os dias de hoje. Surge o vestido de noiva, propriamente dito, com uma simbologia de poder e com uma função social determinada. A noiva era apresentada à sociedade com todas as suas joias – alfinetes, tiaras, braceletes, vários colares e muitos anéis, (podendo ser mais de um em cada dedo), com um vestido vermelho ricamente bordado e sobre a cabeça um véu branco, bordado com fios dourados. O vermelho remetia à capacidade da noiva de gerar sangue novo, dando continuidade ao clã, e o véu simbolizava da sua castidade.
Mais à frente na história, temos as noivas burguesas, uma classe nova, que queria mostrar todo o seu poder, face à nobreza. A noiva era apresentada com o ventre saliente, demonstrando a sua capacidade de procriar.
Já a noiva do Renascimento, em consequência da ascensão da burguesia mercantil, passou a mostrar-se com mais luxo, em vestidos de veludo e brocado, ostentando o brasão de sua família e as cores da família do seu noivo. É quando entra em cena a tiara, que passa a ser um adereço obrigatório, antecedendo a conhecida grinalda. O uso de anéis era importante para demonstrar o poder financeiro do novo casal.
A corte católica espanhola, no final do Renascimento, determina o preto como cor correta a ser usada, como sinal de moral religiosa. No sul do Brasil sob influência da imigração alemã e noutras regiões do interior do país, as famílias guardam retratos de noivas que, até por volta de 1910, casavam de negro.
Mas, o mais interessante é que neste período, de imposição de um tom escuro para as noivas, é que surge o tradicional vestido branco, vigente até os dias de hoje, reinando, quase absolutamente, como sinal de bom gosto e elegância.
A rainha Maria Vitória, no dia do seu casamento. |
Há três teorias para o aparecimento do branco. Uns afirmam que a primeira noiva a usar branco foi a italiana Maria de Médici, que, aos catorze anos, se casou com o herdeiro do trono francês, Henrique IV. Era católica, mas não concordava com a estética religiosa, e escolheu um brocado branco para demonstrar toda a exuberância da sua corte. Porém, o grande impacto, foi causado pelo decote quadrado com o colo à mostra. “Rica veste branco, ornada em ouro, que mostrava o candor virginal da noiva.” – foram as palavras escolhidas por Michelangelo Buonarote, grande artista da época, para descrever o vestido.
Para outros historiadores a pioneira foi a rainha Mary Stuart, da Escócia, no século XVI, que escolheu o branco em homenagem à família Guise, que tinha a cor branca no brasão.
Uma terceira corrente, a mais conhecida, afirma que foi a rainha Vitória de Inglaterra quem passou a ditar a moda, aquando do seu casamento com o príncipe Albert, no século XIX, onde ostentou um esplendoroso traje, com vestido e véu em branco e sem coroa, o que foi inédito.
Casamento da rainha Maria Vitória |
A título de curiosidade, saiba que, de todos os casamentos históricos citados, consta que esse foi o único que aconteceu pela existência de um amor recíproco e, por ser rainha, foi ela quem pediu o amado em casamento.
No período Rococó os vestidos passaram a ser confecionados com tecidos brilhantes, bordados com pedrarias, com babados de renda nas mangas e decotes. As cores prediletas eram as florais em tons pastel. Peculiarmente, as noivas usavam uma peruca conhecida como Pouf de Sentimento, onde era colocado um cupido, o retrato do noivo, frutas e verduras que representavam a abundância para o novo lar.
O conceito de discrição e o puritanismo veio com a Revolução Francesa. O traje branco, símbolo do caráter e da pureza virginal da noiva, ganhou acessórios: véu branco e transparente, significado de sua castidade, preso à cabeça por uma grinalda de flores de cera. O linho, a lã e os tecidos opacos passaram a ser mais adequados.
Desde então o traje nupcial é branco, maioritariamente, sendo que as variações existentes acontecem no formato, corte e volume, de acordo com a moda corrente. Eventualmente, será o mais caro e o mais luxuoso que uma mulher usará em toda a sua vida.
O papa Pio IX declarou que as noivas deveriam usar o branco como símbolo da Imaculada Conceição, do mesmo modo que Maria, a Imaculada. A noiva do Romantismo passa também a usar um adereço de mão, que poderia ser um terço ou livrinho de orações. Com o Iluminismo, no final do Século XIX, o branco ganha mais uma interpretação: a ideia de luz, e a noiva agrega ao seu traje a flor de laranjeira, sinónimo de fertilidade.
O estilo Liberty impôs que a noiva fosse uma flor: pura como o lírio, nobre como a rosa, delicada como a margarida, apaixonante como a orquídea. Nas mãos um ramo de flores colhidas no dia. A noiva que melhor representou este período foi a princesa Sissi, que se tornou Imperatriz da Áustria quando se casou com Francisco José, em 1854.
Um dos vestidos mais copiados: o da princesa Diana. |
Hoje em dia a escolha da cor do vestido depende do gosto da noiva. |
Por vezes, o vestido é de cor branca, adornado com pormenores de outras cores. |
Curto ou longo, mais ou menos sumptuoso, o vestido reflete o estilo pessoal da noiva. |
“No século XX o traje nupcial acompanhou toda a evolução da moda, acompanhando o sistema de alta costura que vestiu todas as princesas do século e foi divulgado pelas revistas e figurinos de moda e, posteriormente, pelo cinema e pela televisão.
Se o vestido da noiva nasce como símbolo do património das famílias, da fertilidade da esposa e da paixão entre o casal, hoje estes símbolos estão sendo resgatados e projetados para o século XXI.
Os atuais vestidos de noiva têm sido apresentados nas cores da paixão, da pureza e adornados de múltiplas flores remetendo a todo tipo de fertilidade amorosa.
Mais do que nunca, estes vestidos têm sido apresentado com tecidos luxuosos, brilhantes e bordados e sua alta carga simbólica continua a representar o papel da mulher dentro da instituição do casamento, hoje vista não como representação do património familiar paterno, mas como uma parceira à altura das competências do marido como provedor.” Queila Ferraz